Liberdade, empoderamento, respeito, organização e coragem. Estas foram algumas das palavras escritas em pétalas que formaram uma grande margarida no primeiro dia da 18ª Assembleia da Rede Mulher do Sertão do São Francisco. Além da força dos sentimentos escritos, o símbolo escolhido para o início do encontro foi bastante representativo. A flor fez memória à 6ª Marcha das Margaridas, que aconteceu no mês passado, em Brasília, e levou 100 mil mulheres às ruas.

Inspiradas na força feminina que tomou conta da capital federal e da líder sindical Margarida Maria Alves (assassinada em 1983), mais de 50 mulheres, em sua maioria trabalhadoras rurais, de Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Uauá participaram da Assembleia Regional da Rede Mulher. Realizada entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro, na Central de Serviços e Apoio à Agricultura Familiar (CESAF), em Juazeiro, a Assembleia teve como tema “Sem feminismo não há agroecologia”.

A expressão, que se tornou um grito de luta e norteou os três dias de Assembleia, surgiu há cinco anos, durante o III Encontro Nacional de Agroecologia. “Há uma compreensão de que a agroecologia não envolve só as questões técnicas e é fundamental envolver toda a família, mas, dentro da agroecologia se vivencia também as contradições, então para afirmar a maior necessidade de participação das mulheres, esse grito surgiu nesse encontro e hoje virou um lema para movimentos e organizações de mulheres” explica a coordenadora do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP), Márcia Muniz*.

Márcia, que assessorou o primeiro dia da Assembleia, destaca que as trabalhadoras rurais estão à frente das experiências agroecológicas, no entanto, são invisibilizadas. “As mulheres estão nos quintais, trabalham com criação, apicultura, beneficiamento de alimentos e ainda fazem artesanatos, então são muitas ações que elas fazem e às vezes não são mostradas, aparecem muito mais fortes as atividades realizadas pelos homens”, ressalta.

De acordo com a integrante da coordenação da Rede Mulher Regional Jaciara Ladislau, as temáticas do feminismo e agroecologia vêm sendo trabalhadas desde o início do ano. Ela comenta que uma das formas encontradas pelas mulheres da Rede para dar visibilidade ao trabalho e à produção agroecológica foram as feiras. No município de Sento Sé, por exemplo, a Rede Mulher passou a realizar quinzenalmente uma feira agroecológica. “Isso é um grande ganho para um município que nem feira livre tem. Além do alimento para a família, as mulheres também geram uma renda a mais. É uma forma de valorizar e aumentar a autoestima das agricultoras”, afirma Jaciara.

A diversidade da produção das mulheres do Sertão do São Francisco foi observada durante a Assembleia. Doces, biscoitos, remédios caseiros, bebidas, trabalhos manuais e artesanatos foram expostos e, nos intervalos, as mulheres comercializaram e trocaram suas produções. A 18ª Assembleia Regional da Rede Mulher contou com o apoio do projeto Bahia Produtiva da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e de entidades parceiras, como o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) e o SASOP.

* Márcia Maria Pereira Muniz é egressa da primeira turma do Mestrado em Extensão Rural e doutoranda em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial – PPGADT/Univasf.

Fonte: http://www.sasop.org.br/noticia.php?cod=781